quinta-feira, 17 de maio de 2012

Amor sem palavras

O post .Art Mama. da Mai suscitou dois assuntos meus, que vou postar em partes.

Quando conto às minhas amigas que quando eu era pequena passava todas as férias na casa da minha avó, muitas me perguntam se ela me contava sobre o Japão, as dificuldades dos primeiros imigrantes no Brasil... A verdade é que nunca trocamos uma palavra.

Nascida no Japão, veio já casada para o Brasil aos 18 anos de idade e, até seus 80 anos, não aprendeu a falar português. Perdeu o marido cedo mas o genro logo assumiu os negócios no sítio e, se mudando para a cidade, frequentava o Seicho-no-ie, onde tinha amigas japonesas. Meus pais falavam japonês mas eu não.

Teve um dia que eu e minhas irmãs queriamos pular corda mas minha prima tinha medo de cair e se machucar no chão de cimento. Como crianças que éramos, resolvemos pular no quarto encarpetado. Depois de brincar um pouco, notamos que minha avó não estava em casa, nos perguntamos onde poderia ter ido. Quando ela voltou, estava junto da minha madrinha que contou que ela tinha ficado louca quando viu a gente pulando corda dentro de casa, mas como não sabia se comunicar, saiu correndo para a casa dela. Levamos a maior bronca e esse episódio nunca mais me saiu da memória.

Apesar dessa não-comunicação, quando ela faleceu senti uma tristeza inexplicável por aquela mulher que sempre esteve ali, silenciosa, com suas histórias enclausuradas que permaneceram naquele corpo. Não conseguia entender de onde vinha o amor por aquela pessoa a quem nunca dirigi a palavra. Mas ela era mãe da minha mãe, e hoje vejo que esse fio invisível que nos ligava já era suficiente para florescer tanto carinho e afeto.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

. art mama .


papai, o que a gente vai dar pra mai de dia das mães? (R.)

nossa. dia das mães. meu primeiro. ao receber os parabéns por aí, tive uma sensação estranha. é mesmo, sou uma mãe. e as pessoas me reconhecem como tal. talvez sejam as fotos da K. que eu coloco no facebook. irresistivelmente fofa. filhotes nascem assim pra gente ter vontade de cuidar mesmo, acho.

pra mim isso de ter filhos sempre foi uma coisa dividida. os prós e os contras se equilibravam na balança. muito se devia a alguns círculos que eu frequentava: amigos-família; amigos-contra-família. fazer uma escolha era sempre perder alguma coisa.

não dava pra imaginar ter um nenê e frequentar algumas cenas experimentais. não exatamente pelas ações. em alguma medida, por causa da exposição às escolhas de vida de algumas pessoas. um preconceito de mão dupla talvez. por exemplo, já antes da gravidez, só o fato de não consumir entorpecentes (nem álcool), fazia com que alguns artistas se incomodassem com a minha presença. isso foi coisa de conversar mesmo com os amigos. entendo algumas pessoas não admitirem presença voyeur, ou algo que pareça um confronto de moralismos. mesmo "sem julgamentos", parece que alguma coisa não se encaixa. muita gente desapareceu da minha vida depois que virei mãe. mesmo pessoas de quem gosto muito. acham inconcebível o lance familiar todo.

já os amigos-família sempre estranharam alguma coisa. os relacionamentos, uma certa tendência a lidar com imagens de morte. nascer uma criança é afirmação de vida. como lidar com a morte tão presente sempre? quando eu penso no que me atrai nessa busca, me parece uma prestação de contas com o passado. como se eu precisasse ficar atenta para fazer alguma coisa melhor agora, pras pessoas que estão vivas e perto de mim.

sinto um remorso imenso quando penso na minha avó, de não ter ficado mais tempo perto dela antes do seu falecimento. por isso fico tão próxima da minha mãe. e independente de data comemorativa, sinto uma gratidão imensa por estar aqui. depois que K. nasceu, e mesmo com o convívio com maridones e as crianças, nunca mais senti vazio no peito. me surpreendeu muito ter uma família. me percebo muito mais atenta às ambiguidades.

escolho essas imagens acima do artista japonês tatsumi orimoto pra me relacionar neste dia das mães. algumas pessoas vêem as fotos da mãe com alzheimer como um jeito de tirar proveito de algo dramático a fim de aparecer. produzir imagens assim também é um jeito de prestar atenção e ficar próximo. eu vejo ali em 'art mama', algo que queria ter feito com minha avó. não pelas imagens. o estar junto mesmo.

. desenhos .


esses dias vi isto aqui: desenhos que foram transformados em brinquedos.

brinquedo, ilustração, real. pros meninos aqui em casa, desenho animado, por exemplo, parece muito mais real do que um "filme de adulto". eles não ficam com medo da espada do samurai (adoramos filmes de samurai), mas morrem de medo da bruxa (menos a kiki) ou do inimigo ultra-poderoso do super herói. 

eles também criam categorias (com a nossa "ajuda" - repetição, claro): brinquedo, coisa perigosa, divertido, engraçado, coisa da cozinha, coisa do banheiro, faz mal, é sujo. se for colorido é brinquedo. difícil explicar alguns objetos com os quais eles não podem brincar: faca vermelha, tesoura rosa, agulha azul, cerâmica amarela. 

argila, caneta, lápis. tudo desenho. pra eles é fácil associar. demorei tanto pra entender. uma professora da faculdade teve que mostrar o arame saindo pela parede pra eu entender o desenho sem ser lápis sobre papel. dança. fotografia. objeto. que mais, que mais. independente de categorias. me interessam os modos de vida. desenho como modo de perceber e mapear estados de estar vivo.

desenhos do R. (quase 5 anos)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

. arte na escola diva gomes .


paulo lorenzeti é amigo querido que leciona artes em escola pública no município de mauá - sp. ele atualiza um blog ( http://artenaescoladivagomes.blogspot.com.br/ ) com as ações e reflexões sobre as atividades realizadas com seus alunos. ali eu sempre encontro coisas bonitas e portas para comunicação com as crianças.