Minha avó foi o meu primeiro contato consciente com a morte. Já tinha ido no funeral de uma tia, mas na época não entendia absolutamente nada do que estava acontecendo. Não entendi porque ela tinha algodões no nariz e a única diversão naquele lugar era brincar entre as colunas que sustentavam o caixão.
Voltando a morte da minha avó, eu tinha acabado de voltar do primeiro dia da escola e recebemos um telefonema. Minha irmã mais velha atendeu e ficou muito nervosa, disse que a avó estava muito doente. Minha mãe sabe-se lá para onde tinha ido, não voltava. Quando voltou, minha irmã foi falar com ela, que rapidamente começou a fazer outros telefonemas e de repente começou a fazer as malas, separar roupas. E disse "esta é para o funeral". Na minha ingenuidade, pensei "como ela sabe que a vovó vai morrer?". Mas eu fiquei feliz, porque viajar para a casa da minha avó sempre era muito bom.
A viagem foi tensa. Insetos, mariposas e borboletas iam se espatifando no vidro do carro, atraídas pela luz do farol. Costumávamos viajar de manhã, mas desta vez saímos depois do almoço, chegamos já estava escuro. A casa estava toda iluminada e aberta. Gritei contente pelo nome da minha tia que morava com a avó. Minha irmã me olhou com reprovação. Não entendia.
Entramos e minha mãe se abraçou com meu tio. Fui para o quarto da minha avó. Vazio. Comecei a entender. Lágrimas começaram a correr pelo meu rosto.
Enfim, depois de muito choro, flores, terra, missa, veio a festa. Os xintoístas comemoram nos funerais. Era estranho estar comendo, bebendo e até rindo ali entre parentes. Me disseram que a tradição é comemorar todos os anos, até completar talvez 40 ou 50 anos - não lembro ao certo. Comentaram o caso de uma conhecida que organizou a festa de um parente que nem chegou a conhecer, apenas para manter a tradição.
A Mai já falou aqui e é algo que também já refleti muito: tendo uma explosão de vida como um bebê dentro de casa, é praticamente impossível não pensar na sua antítese; novas gerações chegam e as velhas precisam dar passagem. Essa é a lei da natureza.
Hoje fiquei sabendo do falecimento da minha sogra, uma nova estrela brilha no céu.
ah fia, que triste. força pro onestim!
ResponderExcluirainda acho estranho pensar nisso, mas, um dia todos nós seremos estrelas.
ResponderExcluircom esse entendimento - mesmo que a gente precise de lembretes constantes, faz sentido que procuremos brilhar praqueles que estão ao nosso lado agora.