sexta-feira, 10 de agosto de 2012

quando nascem as estrelas



Minha avó foi o meu primeiro contato consciente com a morte. Já tinha ido no funeral de uma tia, mas na época não entendia absolutamente nada do que estava acontecendo. Não entendi porque ela tinha algodões no nariz e a única diversão naquele lugar era brincar entre as colunas que sustentavam o caixão.

Voltando a morte da minha avó, eu tinha acabado de voltar do primeiro dia da escola e recebemos um telefonema. Minha irmã mais velha atendeu e ficou muito nervosa, disse que a avó estava muito doente. Minha mãe sabe-se lá para onde tinha ido, não voltava. Quando voltou, minha irmã foi falar com ela, que rapidamente começou a fazer outros telefonemas e de repente começou a fazer as malas, separar roupas. E disse "esta é para o funeral". Na minha ingenuidade, pensei "como ela sabe que a vovó vai morrer?". Mas eu fiquei feliz, porque viajar para a casa da minha avó sempre era muito bom.

A viagem foi tensa. Insetos, mariposas e borboletas iam se espatifando no vidro do carro, atraídas pela luz do farol. Costumávamos viajar de manhã, mas desta vez saímos depois do almoço, chegamos já estava escuro. A casa estava toda iluminada e aberta. Gritei contente pelo nome da minha tia que morava com a avó. Minha irmã me olhou com reprovação. Não entendia.

Entramos e minha mãe se abraçou com meu tio. Fui para o quarto da minha avó. Vazio. Comecei a entender. Lágrimas começaram a correr pelo meu rosto.

Enfim, depois de muito choro, flores, terra, missa, veio a festa. Os xintoístas comemoram nos funerais. Era estranho estar comendo, bebendo e até rindo ali entre parentes. Me disseram que a tradição é comemorar todos os anos, até completar talvez 40 ou 50 anos - não lembro ao certo. Comentaram o caso de uma conhecida que organizou a festa de um parente que nem chegou a conhecer, apenas para manter a tradição.

A Mai já falou aqui e é algo que também já refleti muito: tendo uma explosão de vida como um bebê dentro de casa, é praticamente impossível não pensar na sua antítese; novas gerações chegam e as velhas precisam dar passagem. Essa é a lei da natureza.

 Hoje fiquei sabendo do falecimento da minha sogra, uma nova estrela brilha no céu.

2 comentários:

  1. ah fia, que triste. força pro onestim!

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  2. ainda acho estranho pensar nisso, mas, um dia todos nós seremos estrelas.
    com esse entendimento - mesmo que a gente precise de lembretes constantes, faz sentido que procuremos brilhar praqueles que estão ao nosso lado agora.

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