sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um pequeno guerreiro dentro de uma flor



Se para minha primeira filha eu sabia como o nome dela começaria, para a segunda eu sabia que terminaria com 'o'.

A maioria dos nomes japoneses femininos terminam com o. Mais especificamente com a sílaba 'ko' que significa criança, filha. Eu não queria que o nome soasse tão japonês, era uma tarefa difícil. Eu e meu marido juntamos sílabas e mais sílabas, mas nada me encantava.

Cheguei a cogitar desistir da idéia. Tenho uma amiga chamada Nami e sempre achei bonito, significa 'onda'. Aí a história se repetiria: a imagem de uma marolinha na praia, mas no final um 'tsunami' mudando completamente a minha vida.

Mantivemos a idéia inicial, as semanas iam passando e ela estava próxima de nascer. Lembrei do livro 'Negras Raízes' e o nascimento de Kunta Kintê: eu simplesmente iria olhar o rostinho dela e susurrar o nome em seu ouvido. Mas não foi isso que aconteceu. Não conseguia pensar em nada. Passaram-se quase quinze dias e resolvemos dar o nome de uma personagem de desenho animado - de novo - que terminava com a letra 'o'.

Fomos para o cartório registrar. Papéis quase todos assinados, a tabeliã resolve fazer uma ligação e, falando baixo, parecia que era algo a ver com o nome de nossa filha. Depois que desligou, começou a digitar no computador, reimprimiu todos os papéis e pediu para que a gente assinasse de novo, com a cláusula de que éramos responsáveis pela grafia do nome - porque ele terminava com a letra 'o'.

Quando buscamos um nome para ela, em português só encontramos Carmo e Consuelo. Nomes femininos com a letra 'o' existem. Mas, pensando que no Brasil a maioria dos nomes masculinos terminam com 'o', talvez de forma inconsciente eu quisesse acrescentar um toque masculino para minha filha: a força de um guerreiro dentro de uma flor, o yang dentro do yin, duas forças adversárias buscando o equilíbrio.

Ilustração: Bahman Dadkhah, illus. for Poems for Children (Iran 1972), 2-page spread

Nenhum comentário:

Postar um comentário