quarta-feira, 16 de maio de 2012

. art mama .


papai, o que a gente vai dar pra mai de dia das mães? (R.)

nossa. dia das mães. meu primeiro. ao receber os parabéns por aí, tive uma sensação estranha. é mesmo, sou uma mãe. e as pessoas me reconhecem como tal. talvez sejam as fotos da K. que eu coloco no facebook. irresistivelmente fofa. filhotes nascem assim pra gente ter vontade de cuidar mesmo, acho.

pra mim isso de ter filhos sempre foi uma coisa dividida. os prós e os contras se equilibravam na balança. muito se devia a alguns círculos que eu frequentava: amigos-família; amigos-contra-família. fazer uma escolha era sempre perder alguma coisa.

não dava pra imaginar ter um nenê e frequentar algumas cenas experimentais. não exatamente pelas ações. em alguma medida, por causa da exposição às escolhas de vida de algumas pessoas. um preconceito de mão dupla talvez. por exemplo, já antes da gravidez, só o fato de não consumir entorpecentes (nem álcool), fazia com que alguns artistas se incomodassem com a minha presença. isso foi coisa de conversar mesmo com os amigos. entendo algumas pessoas não admitirem presença voyeur, ou algo que pareça um confronto de moralismos. mesmo "sem julgamentos", parece que alguma coisa não se encaixa. muita gente desapareceu da minha vida depois que virei mãe. mesmo pessoas de quem gosto muito. acham inconcebível o lance familiar todo.

já os amigos-família sempre estranharam alguma coisa. os relacionamentos, uma certa tendência a lidar com imagens de morte. nascer uma criança é afirmação de vida. como lidar com a morte tão presente sempre? quando eu penso no que me atrai nessa busca, me parece uma prestação de contas com o passado. como se eu precisasse ficar atenta para fazer alguma coisa melhor agora, pras pessoas que estão vivas e perto de mim.

sinto um remorso imenso quando penso na minha avó, de não ter ficado mais tempo perto dela antes do seu falecimento. por isso fico tão próxima da minha mãe. e independente de data comemorativa, sinto uma gratidão imensa por estar aqui. depois que K. nasceu, e mesmo com o convívio com maridones e as crianças, nunca mais senti vazio no peito. me surpreendeu muito ter uma família. me percebo muito mais atenta às ambiguidades.

escolho essas imagens acima do artista japonês tatsumi orimoto pra me relacionar neste dia das mães. algumas pessoas vêem as fotos da mãe com alzheimer como um jeito de tirar proveito de algo dramático a fim de aparecer. produzir imagens assim também é um jeito de prestar atenção e ficar próximo. eu vejo ali em 'art mama', algo que queria ter feito com minha avó. não pelas imagens. o estar junto mesmo.

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