O post .Art Mama. da Mai suscitou dois assuntos meus, que vou postar em partes.
Quando conto às minhas amigas que quando eu era pequena passava todas as férias na casa da minha avó, muitas me perguntam se ela me contava sobre o Japão, as dificuldades dos primeiros imigrantes no Brasil... A verdade é que nunca trocamos uma palavra.
Nascida no Japão, veio já casada para o Brasil aos 18 anos de idade e, até seus 80 anos, não aprendeu a falar português. Perdeu o marido cedo mas o genro logo assumiu os negócios no sítio e, se mudando para a cidade, frequentava o Seicho-no-ie, onde tinha amigas japonesas. Meus pais falavam japonês mas eu não.
Teve um dia que eu e minhas irmãs queriamos pular corda mas minha prima tinha medo de cair e se machucar no chão de cimento. Como crianças que éramos, resolvemos pular no quarto encarpetado. Depois de brincar um pouco, notamos que minha avó não estava em casa, nos perguntamos onde poderia ter ido. Quando ela voltou, estava junto da minha madrinha que contou que ela tinha ficado louca quando viu a gente pulando corda dentro de casa, mas como não sabia se comunicar, saiu correndo para a casa dela. Levamos a maior bronca e esse episódio nunca mais me saiu da memória.
Apesar dessa não-comunicação, quando ela faleceu senti uma tristeza inexplicável por aquela mulher que sempre esteve ali, silenciosa, com suas histórias enclausuradas que permaneceram naquele corpo. Não conseguia entender de onde vinha o amor por aquela pessoa a quem nunca dirigi a palavra. Mas ela era mãe da minha mãe, e hoje vejo que esse fio invisível que nos ligava já era suficiente para florescer tanto carinho e afeto.
que lindo, fia!
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