sábado, 25 de fevereiro de 2012

. butoh .

notei que a pele dela estava amarelando. mais um dia no hospital. nada sério, disse a médica. taxa alta de bilirrubina, o que levou a um início de icterícia. 24 horas em uma cama de luz, uma exposição a radiação concentrada no espectro azul, da luz visível.

ela deveria ficar sem a roupa, para a fototerapia. não passava frio (aquecedor) ou fome (meu peito), não sofria. mas ve-la daquele jeito, frágil, com o corpinho de recém-nascida, os olhos vendados, fazendo movimentos lentos, de quem sente o ar pela primeira vez, me deixou muito emocionada. passei muitas horas observando a dança suave daqueles gestos de existir. de alguma maneira, me fez pensar em minha avó. imagem do fim e do começo.


“mover-se é procurar a vida” | "somos conduzidos para um mundo de poesia impossível de descrever com palavras" kazuo ohno

Um comentário:

  1. começo e fim sempre muito próximos. é preciso mesmo observar os "gestos de existir" e existirmos neste momento-agora. neste tempo que é nosso e não volta.

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