quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Flor do Deserto


Ontem assisti ao perturbador 'Flor do Deserto'. O filme conta a história verídica de Waris Dirie, somaliana que sofreu a circuncisão feminina aos 3 anos. Aos 13 anos, vendo a irmã obrigada a aceitar o casamento de conveniência e desejando algo diferente para si, foge para a cidade em busca da avó. Andando dias no deserto sem ter o que beber e comer e escapando de um estupro ao tomar carona a caminho da cidade, é recebida pela avó como um ser especial por ter resistido a tantas provações e enviada para Londres para trabalhar como faxineira de sua tia, casada com um embaixador.

Anos passados, é descoberta pelo fotógrafo Terry Donaldson e se torna uma grande modelo de moda. Sendo então conhecida, passa a lutar contra a mutilação feminina e ao direito da mulher em existir de forma plena.

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E então, hoje pela manhã, ainda perturbada, recebo o seguinte comentário do meu marido: "Agora você sabe como me senti quando você furou a orelha de F.". Indignada profundamente, respondi quase aos berros "Isso não tem nem comparação!!""É, mas você não deu escolha a ela, e sou completamente contra a todas essas 'convenções' da sociedade".

Acabei me calando. De fato, não dei escolha a ela. Furei porque é uma menina. Tenho uma amiga que não tem as orelhas furadas porque ela acredita nos pontos vitais do corpo, como na acupuntura. E se F. se sentir violada caso ela também abrace esse estilo de vida?

Na Somália e em países islãos, a prática da circuncisão é realizada por acreditarem que a mulher se torna pura e só assim pode se casar, as que não fazem são consideradas "prostitutas". E pela pobreza desses países, os casamentos arranjados são uma forma de sustento para as famílias, por isso tão importante encontrar um homem que aceite suas filhas.

Fui pesquisar sobre essa questão na internet. E vi que apesar da coragem de Waries denunciar essa prática, pouco se fez a respeito de evitar essa violência. Afinal, o que são mulheres circuncisadas nos países mais pobres da Africa?

Sei que pouco adiantaria eu postar no facebook minha indignação: as pessoas curtiriam, apoiariam, mas nada de real e prático seria feito. Por isso escrevo este post. Porque se essa realidade é tão distante para nós, vamos tentar enxergar com olhos mais abertos para nós mesmos, assim conseguimos nos sensibilizar. Será que também não submetemos nossos filhos a 'mutilações' psicológicas, desejando que se tornem pessoas "bem-sucedidas", competitivas, podamos a liberdade de escolha deles em ações sutis e aparentemente inocentes.

Se queremos um mundo diferente, temos que começar a transformar a partir de nós mesmas.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Por um fio

Por um fio, da série Fotopoemação, 1976/2010 
Ana Maria Maiolino
ampliação digital de fotografia em preto e branco

52 x 79 cm


quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Neurose


  

Há não muito tempo atrás, para alguém ver minhas fotos de infância, a pessoa tinha que estar sentada na sala da minha casa, abrir o armário (que era obstruído por uma mesa, eu tinha que arrastar a mesa para poder abrí-lo), pegar o álbum e - geralmente - eu acompanhava o folhear das páginas, fazendo as vezes da legenda das fotos.

Quando dou um scroll pelo facebook e vejo as fotos dos filhos que meus amigos postam, algumas me deixam em pânico. O filho fazendo o seu primeiro pipi sentado na privada, a filha tomando banho, os brinquedos ganhados no aniversário, o evento na escola. E quem está folheando todos esses álbuns, será que temos mesmo o controle de tudo isso? Acompanho blogs de mães, está tudo ali descrito, a primeira papinha, quando deu o primeiro passo... coisas que só pessoas muito próximas, que frequentavam a minha casa, sabiam de mim. Eu sinceramente não sei o efeito para os filhos de nascerem e crescerem com essas "intimidades" tão expostas.

Sou uma pessimista.

domingo, 7 de outubro de 2012

. dia, mês, ano .












1 ano. mesmo prestando atenção, tem coisas que o cotidiano não nos deixa perceber. aniversário, rito de passagem: um ano se passou. o que aconteceu, o que mudou, o que ficou. claro que eu percebi que as roupinhas já não cabiam mais. sentou. levantou. aumentou a quantidade de comida - e mudou o tipo dela. deu passos. andou. se desloca pra onde quer. chora mais. chora menos. dorme. reclama. sorri e gargalha. brinca. imita e testa nossas reações. 

coisa simples em casa. era pra ser nano festa. como ninguem confirmou presença, achei que viriam os parentes, pouca gente. mais de quarenta pessoas no apartamento. k. já tinha aprendido a bater palmas, então quando cantaram 'parabéns', abriu um sorriso e deu gritos batendo as mãos. uma verdadeira festa.

o tempo da criança é uma martelada nas nossas percepções. tudo é marcado. quando uma coisa nova acontece, é sempre uma ficha caindo. a primeira vez que. as coisas todas que fazemos sem perceber pra eles é um grande desafio. e vencidos, determinam em ações as metáforas das nossas próprias conquistas.

no dia-a-dia ainda não consegui me adaptar com a rotina casa, crianças e outras atividades. tudo uma grande bagunça. as dúvidas, que antes eram muitas, continuam existindo. mas mais amigas se tornaram mães, outras famílias em contato, e todas as figurinhas trocadas foram acalmando tanta ansiedade. bem mais calma, esse estado de espirito tem deixado mais leves os dias atarefados de dormir tarde e acordar cedo.

tão cansada. tão feliz. vai entender.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012


Tenho estado muito pouco aqui. Com a menor começando a comer e engatinhar, grande parte do tempo tenho me dedicado a preparar a papinha e a tomar cuidados para evitar qualquer acidente.

A segunda filha é a segunda chance da mãe: é a oportunidade de fazer coisas que eu achava que poderia ter feito melhor e conseguir. É o momento de repensar algumas idéias que se instalaram na sua cabeça com o primeiro rebento e descobrir que elas não eram verdades universais.

 Tenho trabalhado muito no 'lar' e pouco na 'profissão', por isso resolvi acordar alguns sentidos meus que estavam parados. Ler ou desenhar são tarefas mais raras porque exigem muito da minha atenção, então comecei a usar mais o ouvido: entre uma mamada e outra deixo rolando uma palestra do Café Filosófico para escutar e esta aqui da Rosely Sayão é ótima para refletir sobre a educação dos filhos: Clique aqui.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

quando nascem as estrelas



Minha avó foi o meu primeiro contato consciente com a morte. Já tinha ido no funeral de uma tia, mas na época não entendia absolutamente nada do que estava acontecendo. Não entendi porque ela tinha algodões no nariz e a única diversão naquele lugar era brincar entre as colunas que sustentavam o caixão.

Voltando a morte da minha avó, eu tinha acabado de voltar do primeiro dia da escola e recebemos um telefonema. Minha irmã mais velha atendeu e ficou muito nervosa, disse que a avó estava muito doente. Minha mãe sabe-se lá para onde tinha ido, não voltava. Quando voltou, minha irmã foi falar com ela, que rapidamente começou a fazer outros telefonemas e de repente começou a fazer as malas, separar roupas. E disse "esta é para o funeral". Na minha ingenuidade, pensei "como ela sabe que a vovó vai morrer?". Mas eu fiquei feliz, porque viajar para a casa da minha avó sempre era muito bom.

A viagem foi tensa. Insetos, mariposas e borboletas iam se espatifando no vidro do carro, atraídas pela luz do farol. Costumávamos viajar de manhã, mas desta vez saímos depois do almoço, chegamos já estava escuro. A casa estava toda iluminada e aberta. Gritei contente pelo nome da minha tia que morava com a avó. Minha irmã me olhou com reprovação. Não entendia.

Entramos e minha mãe se abraçou com meu tio. Fui para o quarto da minha avó. Vazio. Comecei a entender. Lágrimas começaram a correr pelo meu rosto.

Enfim, depois de muito choro, flores, terra, missa, veio a festa. Os xintoístas comemoram nos funerais. Era estranho estar comendo, bebendo e até rindo ali entre parentes. Me disseram que a tradição é comemorar todos os anos, até completar talvez 40 ou 50 anos - não lembro ao certo. Comentaram o caso de uma conhecida que organizou a festa de um parente que nem chegou a conhecer, apenas para manter a tradição.

A Mai já falou aqui e é algo que também já refleti muito: tendo uma explosão de vida como um bebê dentro de casa, é praticamente impossível não pensar na sua antítese; novas gerações chegam e as velhas precisam dar passagem. Essa é a lei da natureza.

 Hoje fiquei sabendo do falecimento da minha sogra, uma nova estrela brilha no céu.

terça-feira, 31 de julho de 2012

. fragilidade e resistência .



o prato na cozinha no armário na pia sobre a mesa. acidente cai quebra. desenhos. ela não pode ficar aqui é perigoso pode se cortar ou colocar os pequenos cacos dentro da boca engolir coisa pior.

aqui deixo de escrever muitas coisas. as dúvidas mais importantes acabo guardando, sem coragem de buscar, de expor. um jeito de me aproximar dessas questões como imagens de troca: dizer que existem fragilidades, mesmo que não se toque propriamente no assunto. tão impressionante ver os dias passando e tudo o que me parece natural, normal, cotidiano, pra ela é um evento, uma descoberta, a vida inteira. e é nessa beleza que encontro a coragem e o medo que sinto sendo mãe dela.

 - pelo menos procuro buscar isso, sempre que consigo prestar atenção - 

. exercícios de atenção . 

preparar a comida (sopa ou papinha), colocar nos potinhos, esperar esfriar, colocar as tampas, congelar, deixar dois potinhos na geladeira, temperar com alho e salsinha na panela todos os dias, antes de servir, lavar as mamadeiras, a chupeta, ferve-las, colocar água filtrada fervida na garrafa térmica, sete medidas de fórmula no pote medidor, tirar a fralda sem derrubar o cocô antes de fazer mais xixi, limpar bem por o creme de assaduras, colocar a fralda, colocar ou tirar a roupinha, as roupas são tão pequenas no varal, segurar a cabeça na inclinação certa para não entrar shampoo no olho, na orelha a água o cotonete a toalha de banho limpa, a temperatura do leite da papinha da água do banho, os brinquedos e o que pode virar brinquedo neste momento porque esqueci de trazer, música e dança ela dança eu tento perder o medo de dançar e penso em dançar mais e dançar quando for velha como se fosse algo sério de se apresentar para um público, será que ela vai dançar desenhar crescer feliz, acalmar o choro descobrir o porquê, tão bom o cheiro quando ela deita sobre o peito quando ela dorme junto comigo mas ela deve dormir no quarto dela, as outras crianças marido avó parentes meus afetos perto longe vontades o que tem de ser feito ponto.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Celebrar

'No passado, celebrar era uma maneira de aproximar a comunidade. O mesmo acontece no tempo de hoje. Sejam encontros culturais, ocasiões de culto em grupo ou mesmo jantares especiais com amigos, todos nós precisamos de momentos para nos reunirmos e reafirmar a importância do nosso grupo'. [Tao. Meditações Diárias]

Dia das mães. Por mais que as pessoas digam que é uma 'data comercial', eu, minhas irmãs e meu pai sempre combinávamos de fazer algo diferente para minha mãe. Seja sair para comer em um restaurante, juntar a mesada para dar um presente ou até brincar que ela sequer poderia ser contrariada... Nunca nos importamos se estávamos sendo varridos pelo sistema capitalista ou não, mas sim conseguir dizer - ou expressar - naquele dia que ela era uma pessoa muito especial para nós. E essa era a tradição nessa família.

Quando me tornei mãe, estava apreensiva com a data que estava para chegar. O que haveria na minha nova e recém criada família? Meu marido nunca tinha comemorado o dia das mães. Apesar de ter morado com a mãe a vida inteira, fora criado pela bisavó. E quando perguntei se não iriamos fazer NADA naquele dia, ele desajeitadamente se ofereceu a fazer macarrão com molho de salsicha. 'Ora, que pelo menos seja uma linguiça, vá!' reclamei.

No ano seguinte, dia das mães nublado e um cenário em casa não mais animador: a filha com pneumonia e o marido com virose. Os dois deitados em um colchonete na sala, quase um acampamento para enfermos. Naquele momento, entendi que o meu dia das mães não era o segundo domingo do mês de maio mas sim todos os dias do ano em que a minha pequena sorri, faz birra, grita, chora, pula, corre e meu marido chega do trabalho suado, pensativo, amoroso ou irritado. E entendi que cada família tem ou cria a sua tradição.

Foto do flickr.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Amor sem palavras

O post .Art Mama. da Mai suscitou dois assuntos meus, que vou postar em partes.

Quando conto às minhas amigas que quando eu era pequena passava todas as férias na casa da minha avó, muitas me perguntam se ela me contava sobre o Japão, as dificuldades dos primeiros imigrantes no Brasil... A verdade é que nunca trocamos uma palavra.

Nascida no Japão, veio já casada para o Brasil aos 18 anos de idade e, até seus 80 anos, não aprendeu a falar português. Perdeu o marido cedo mas o genro logo assumiu os negócios no sítio e, se mudando para a cidade, frequentava o Seicho-no-ie, onde tinha amigas japonesas. Meus pais falavam japonês mas eu não.

Teve um dia que eu e minhas irmãs queriamos pular corda mas minha prima tinha medo de cair e se machucar no chão de cimento. Como crianças que éramos, resolvemos pular no quarto encarpetado. Depois de brincar um pouco, notamos que minha avó não estava em casa, nos perguntamos onde poderia ter ido. Quando ela voltou, estava junto da minha madrinha que contou que ela tinha ficado louca quando viu a gente pulando corda dentro de casa, mas como não sabia se comunicar, saiu correndo para a casa dela. Levamos a maior bronca e esse episódio nunca mais me saiu da memória.

Apesar dessa não-comunicação, quando ela faleceu senti uma tristeza inexplicável por aquela mulher que sempre esteve ali, silenciosa, com suas histórias enclausuradas que permaneceram naquele corpo. Não conseguia entender de onde vinha o amor por aquela pessoa a quem nunca dirigi a palavra. Mas ela era mãe da minha mãe, e hoje vejo que esse fio invisível que nos ligava já era suficiente para florescer tanto carinho e afeto.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

. art mama .


papai, o que a gente vai dar pra mai de dia das mães? (R.)

nossa. dia das mães. meu primeiro. ao receber os parabéns por aí, tive uma sensação estranha. é mesmo, sou uma mãe. e as pessoas me reconhecem como tal. talvez sejam as fotos da K. que eu coloco no facebook. irresistivelmente fofa. filhotes nascem assim pra gente ter vontade de cuidar mesmo, acho.

pra mim isso de ter filhos sempre foi uma coisa dividida. os prós e os contras se equilibravam na balança. muito se devia a alguns círculos que eu frequentava: amigos-família; amigos-contra-família. fazer uma escolha era sempre perder alguma coisa.

não dava pra imaginar ter um nenê e frequentar algumas cenas experimentais. não exatamente pelas ações. em alguma medida, por causa da exposição às escolhas de vida de algumas pessoas. um preconceito de mão dupla talvez. por exemplo, já antes da gravidez, só o fato de não consumir entorpecentes (nem álcool), fazia com que alguns artistas se incomodassem com a minha presença. isso foi coisa de conversar mesmo com os amigos. entendo algumas pessoas não admitirem presença voyeur, ou algo que pareça um confronto de moralismos. mesmo "sem julgamentos", parece que alguma coisa não se encaixa. muita gente desapareceu da minha vida depois que virei mãe. mesmo pessoas de quem gosto muito. acham inconcebível o lance familiar todo.

já os amigos-família sempre estranharam alguma coisa. os relacionamentos, uma certa tendência a lidar com imagens de morte. nascer uma criança é afirmação de vida. como lidar com a morte tão presente sempre? quando eu penso no que me atrai nessa busca, me parece uma prestação de contas com o passado. como se eu precisasse ficar atenta para fazer alguma coisa melhor agora, pras pessoas que estão vivas e perto de mim.

sinto um remorso imenso quando penso na minha avó, de não ter ficado mais tempo perto dela antes do seu falecimento. por isso fico tão próxima da minha mãe. e independente de data comemorativa, sinto uma gratidão imensa por estar aqui. depois que K. nasceu, e mesmo com o convívio com maridones e as crianças, nunca mais senti vazio no peito. me surpreendeu muito ter uma família. me percebo muito mais atenta às ambiguidades.

escolho essas imagens acima do artista japonês tatsumi orimoto pra me relacionar neste dia das mães. algumas pessoas vêem as fotos da mãe com alzheimer como um jeito de tirar proveito de algo dramático a fim de aparecer. produzir imagens assim também é um jeito de prestar atenção e ficar próximo. eu vejo ali em 'art mama', algo que queria ter feito com minha avó. não pelas imagens. o estar junto mesmo.

. desenhos .


esses dias vi isto aqui: desenhos que foram transformados em brinquedos.

brinquedo, ilustração, real. pros meninos aqui em casa, desenho animado, por exemplo, parece muito mais real do que um "filme de adulto". eles não ficam com medo da espada do samurai (adoramos filmes de samurai), mas morrem de medo da bruxa (menos a kiki) ou do inimigo ultra-poderoso do super herói. 

eles também criam categorias (com a nossa "ajuda" - repetição, claro): brinquedo, coisa perigosa, divertido, engraçado, coisa da cozinha, coisa do banheiro, faz mal, é sujo. se for colorido é brinquedo. difícil explicar alguns objetos com os quais eles não podem brincar: faca vermelha, tesoura rosa, agulha azul, cerâmica amarela. 

argila, caneta, lápis. tudo desenho. pra eles é fácil associar. demorei tanto pra entender. uma professora da faculdade teve que mostrar o arame saindo pela parede pra eu entender o desenho sem ser lápis sobre papel. dança. fotografia. objeto. que mais, que mais. independente de categorias. me interessam os modos de vida. desenho como modo de perceber e mapear estados de estar vivo.

desenhos do R. (quase 5 anos)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

. arte na escola diva gomes .


paulo lorenzeti é amigo querido que leciona artes em escola pública no município de mauá - sp. ele atualiza um blog ( http://artenaescoladivagomes.blogspot.com.br/ ) com as ações e reflexões sobre as atividades realizadas com seus alunos. ali eu sempre encontro coisas bonitas e portas para comunicação com as crianças.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

. pontes .












vendo os posts dos papais de plantão no facebook, me aproximei disto:

me fez pensar no cotidiano daqui de casa: o quanto as crianças estão cheias de televisão nas brincadeiras delas e em como eu mesma me afastei do brincar. outro dia R. (quase 5 anos) me chamou, chutando e socando o ar: "brinca comigo?" e eu só pude responder: "não estou com vontade; aliás, acho que não gosto mais de brincar, ou pelo menos, não disso (luta)". "do que você gosta?" "gosto de falar com as pessoas". realmente me sentia assim, e conversamos um tempão sobre isso apesar da frustração dele.

há algum tempo decidi sempre dizer como me sinto de verdade, ao invés de me arrastar em uma coisa de má vontade ou criar "situações estranhas de adultos que mentem". não sei se é algo bacana de se fazer de fato, mas por enquanto foi a melhor maneira que encontrei para criar nossas pontes. um sentimento e uma conversa sobre o que acontece.

o problema não é brincar, mas talvez "lutar contra o alienígena usando o poder dos raios supremos" -  até gosto que eles brinquem assim, mas eu mesma não fantasio esse jogo.  tudo o que vivo com eles me faz resgatar as minhas próprias experiências da infância. o que eu fazia nessa idade? lembro agora que eu adorava fazer livros: dobrava algumas folhas ao meio e enchia de desenhos e colagens. fazia a capa, contracapa, criava o nome da editora, o título. adorava lidar com papel, cola, tesoura, lapis de cor, caneta, régua, grampeador. R. adora desenhar. pronto. disso sei que podemos brincar juntos. vou tentar lembrar de mais coisas e com o tempo trazer tudo isso de volta. 

me coloco em uma ativação "brincadeira full time": cozinhar (cortar e misturar os alimentos),  limpar a casa (borrifador de água + um pano), fazer compras no supermercado (carrinho de compras vira carro que desvia de obstáculos - rios, jacarés, penhascos). mas não estabeleço muito aquele momento: pausa, agora estamos brincando. se não há essa legenda, parece que não existe a experiência. "você nunca brinca com a gente, mai". deve ser por isso que pra cada episódio do desenho, os novos golpes vem com novos títulos.

logo K. vai crescer mais (agora ela está com 7 meses) e deixar de ser um nenê. será que ela vai querer brincar comigo?

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um pequeno guerreiro dentro de uma flor



Se para minha primeira filha eu sabia como o nome dela começaria, para a segunda eu sabia que terminaria com 'o'.

A maioria dos nomes japoneses femininos terminam com o. Mais especificamente com a sílaba 'ko' que significa criança, filha. Eu não queria que o nome soasse tão japonês, era uma tarefa difícil. Eu e meu marido juntamos sílabas e mais sílabas, mas nada me encantava.

Cheguei a cogitar desistir da idéia. Tenho uma amiga chamada Nami e sempre achei bonito, significa 'onda'. Aí a história se repetiria: a imagem de uma marolinha na praia, mas no final um 'tsunami' mudando completamente a minha vida.

Mantivemos a idéia inicial, as semanas iam passando e ela estava próxima de nascer. Lembrei do livro 'Negras Raízes' e o nascimento de Kunta Kintê: eu simplesmente iria olhar o rostinho dela e susurrar o nome em seu ouvido. Mas não foi isso que aconteceu. Não conseguia pensar em nada. Passaram-se quase quinze dias e resolvemos dar o nome de uma personagem de desenho animado - de novo - que terminava com a letra 'o'.

Fomos para o cartório registrar. Papéis quase todos assinados, a tabeliã resolve fazer uma ligação e, falando baixo, parecia que era algo a ver com o nome de nossa filha. Depois que desligou, começou a digitar no computador, reimprimiu todos os papéis e pediu para que a gente assinasse de novo, com a cláusula de que éramos responsáveis pela grafia do nome - porque ele terminava com a letra 'o'.

Quando buscamos um nome para ela, em português só encontramos Carmo e Consuelo. Nomes femininos com a letra 'o' existem. Mas, pensando que no Brasil a maioria dos nomes masculinos terminam com 'o', talvez de forma inconsciente eu quisesse acrescentar um toque masculino para minha filha: a força de um guerreiro dentro de uma flor, o yang dentro do yin, duas forças adversárias buscando o equilíbrio.

Ilustração: Bahman Dadkhah, illus. for Poems for Children (Iran 1972), 2-page spread

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Furin



Eu só sabia de uma coisa: queria que o nome dela começasse com Fu.

Fu era o personagem de um anime que eu gostava. Fuu pra transcrição exata. Não tinha o kanji, mas fazendo uma pesquisa, era a leitura chinesa para o ideograma de vento.

Uma brisa nova, novos ares. Era tudo o que eu queria naquele momento. Mas mal eu sabia que ao invés de uma brisa, seria um 'taifu' (tufão em japonês) na minha vida, virando tudo de cabeça para baixo - para o lado bom.

Ao invés de planejar coisas, deixei-as correr ao sabor do vento. Permiti o acaso e a surpresa entrarem na minha vida. Com a liberdade de uma semente de dente de leão (tampopo), voei e conheci novos horizontes.

Essa é a origem do nome da minha filha.

Foto deste flickr.
Furin: wikipedia | fjsp

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Duas gravidez. Dois bebês. Uma mãe.



Primeira Gravidez.
Leitura: Brasilbabycenter e A encantadora de bebês
Parto: Cesárea
Restrições: Até três copos pequenos de cerveja por semana
Amamentação: Rigorosamente de 3 em 3 horas, acordando o bebê na madrugada
Pai: responsável pelo banho do bebê e muitas brigas com a mãe - cada um achando que sabe cuidar melhor do bebê
Fotos: duas sessões de fotos grávida e muitas só do bebê
Banho do bebê: banheira
Fraldas: descartáveis

Segunda gravidez.
Leitura: Brasilbabycenter uma vez a cada 3 meses. Relatos de parto do site da Casa Moara.
Parto: Natural.
Restrições: Açúcar e carboidratos devido a diabetes gestacional
Amamentação: Livre demanda
Pai: cuidando da filha mais velha, banhos só nos finais de semana, logo chega a um acordo para que as crianças não se estressem
Fotos: duas fotos grávidas e quase todas só do celular
Banho do bebê: ofurô e chuveiro
Fraldas: descartáveis intercalando com fraldas de pano.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

. tampopo .




tampopo, タンポポ, dandelion, dente-de-leão. mesmo com tudo coberto pelo concreto, ele teima em crescer nos cantos, buracos, terrenos abandonados. talvez por isso ele esteja no cenário pós holocaustos nucleares em um dos 'sonhos' de kurosawa. fragilidade e resistência.

quando eu era criança, gostava muito de encontra-lo por aí. hoje, quando caminho com as crianças, sempre aponto e mostro quando vejo um. contando as histórias das coisas de que gostava na infância, penso aproxima-los um pouco dos meus afetos e assim, também de mim. 

às vezes a gente não se dá conta de como as pequenas coisas têm importância. vão diminuindo a distância entre sentimento e acontecimento.

terça-feira, 20 de março de 2012

A sedução e o carisma dos vilões



Cada brinquedo tem o seu momento. Muitos que minha filha ganhou no primeiro aniversário só foram descobertos por ela meses depois. Esse boneco três-em-um só ganhou interesse dela depois que fomos assistir a peça da Chapeuzim Vermelho e o Lobo Marrom, da Cia. Articularte, no Sesc Vila Mariana (que todos os finais de semana oferece espetáculos grátis para crianças). O Lobo Mau é o personagem predileto, com direito a abraços, beijos e música, cantada e dançada por ela.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Era uma vez.



Era uma vez uma menina que encontrou em um berço uma manta laranja. Ela achou a manta muito bonita, macia e - principalmente - gostou da cor. Não parecia ser de ninguém, então ela resolveu pegar e sem pensar duas vezes resolveu usá-la como uma capa, apesar de fazer muito calor naquele dia.

Que surpresa! Aquela manta tinha super poderes! Ela podia saltar muito alto, sair correndo por aí quase flutuando, dançar por aí... ela se sentia invencível!

E quem disse que precisaria esconder sua identidade secreta só porque tinha super poderes? Que nada! Ela ia assim para a escolinha, passear no parque, até mesmo na hora de dormir - olha que grande vantagem! - já estava coberta, afinal era uma manta.

Mas como todo super herói, tinha o seu ponto fraco: se o nó não estivesse bem dado sua capa caía e ela tinha que pedir novamente a um adulto para que restituísse seus super poderes amarrando a capa.

Qual será o próximo capítulo dessa super heroína?

segunda-feira, 5 de março de 2012

. paisagem .

nos dias de chuva, comuns por aqui, ficamos confinados no apartamento. e é assim também na maior parte do tempo, por conta da rotina que levamos (trabalho, escola, casa das mães das crianças). quando W. quer dar um tempo da cidade, ele diz: precisamos ver paisagem. nos fins de semana em que as crianças estão, com tempo bom, aproveitamos para sair um pouco de curitiba. 

os meninos (R., 4 anos e N., 3 anos) gostam de ir ao restaurante bauernhaus, na colônia witmarsum, a uns 60 km daqui. lá tem um monte de animais (galinha, ganso, peru, coelho, cavalo, boi, carneiro, porco, avestruz etc.), que podem ser alimentados pelos visitantes, uma verdadeira aventura para os pequenos.

R., com seus olhos atentos, me ajudou a coletar pedras por ali; ação que me acompanha há anos, e agora ludicamente transformada. bom, o brincar é algo que foi realmente introduzido em minha vida, e é o que nos ajuda a enfrentar o dia-a-dia. ora, quando precisamos fazer algo por obrigação, tentamos adicionar um pouco de diversão. "é só fazer cantando". music landscape.

. waiting room .

ano: 2010. em uma estação de metrô em tokyo, japão, vi uma sala: waiting room. alguns estavam mexendo em seus celulares, outro lia um livro ou dormia. pensei: há muitas pessoas nessas salas - metaforicamente. o que estamos aguardando?
em menos de um ano, tudo mudou: um novo amor, um jeito diferente de se relacionar com o cotidiano, uma vida brotando. e mesmo com o nascimento da nenê, às vezes me pego pensando em como vai ser adiante, deixando muitas vezes de prestar atenção ao que está acontecendo agora.


percebo que preciso repetir o mantra "momento presente" pra não deixar escapar as tantas coisas maravilhosas que se apresentam. então vou fazendo uso de alguns procedimentos como fotografar, escrever, desenhar, guardar, tudo o que possa me ajudar a dar sentido às experiências.


imagem 1: R. (4 anos) me ajudou a colher essas pedras quando fomos passear na colônia witmarsum (pr).

sábado, 25 de fevereiro de 2012

. butoh .

notei que a pele dela estava amarelando. mais um dia no hospital. nada sério, disse a médica. taxa alta de bilirrubina, o que levou a um início de icterícia. 24 horas em uma cama de luz, uma exposição a radiação concentrada no espectro azul, da luz visível.

ela deveria ficar sem a roupa, para a fototerapia. não passava frio (aquecedor) ou fome (meu peito), não sofria. mas ve-la daquele jeito, frágil, com o corpinho de recém-nascida, os olhos vendados, fazendo movimentos lentos, de quem sente o ar pela primeira vez, me deixou muito emocionada. passei muitas horas observando a dança suave daqueles gestos de existir. de alguma maneira, me fez pensar em minha avó. imagem do fim e do começo.


“mover-se é procurar a vida” | "somos conduzidos para um mundo de poesia impossível de descrever com palavras" kazuo ohno

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Manhã de Carnaval

Neste Carnaval, por conta da minha nova pequena, ficamos de molho em casa. Tinha marchinhas no Sesc perto de casa, queria muito ir e levar a mais velha, que adora música e dança... mas não dá para se aventurar com um bebê de 20 dias no colo.

O jeito então foi inventar alguma atividade.

O berçário da minha filha mandou de lembrancinha um "kit carnaval" com um saquinho de confete, uma serpentina e máscaras com elástico para colorir. Abri minha gaveta de costuras e separei lantejoulas de várias cores e tamanhos e me arrisquei a oferecer um pouco de guache para ela pintar com o dedo - dei só a tampinha do potinho. Minha filha rapidamente ficou amiga do tubo de cola, e as lantejoulas pequenas, que para nós adultos é difícil de pegar, iam fácil para os dedinhos dela!







Fiz uma pequena seleção de DIYs e idéias que encontrei sobre Carnaval com as crianças:

1. Máscaras de feltro do site OziOzal
2. Máscaras de papel do pinterest da Deborah Beau
3. Tiara com orelhinhas do site Hart&Sew
4. Bigodinhos, óculos e outros disfarces do site Ruffled

domingo, 19 de fevereiro de 2012

. se tiver amor, sim .


no dia 21 de setembro de 2011, às 23:23, com 2.805 kg, 47 cm, L. nasceu, de parto normal. 

conversar com outras mães é sempre interessante: cada uma tem uma receita, uma história pra contar. maravilhoso descobrir que não há um único jeito de se fazer as coisas. vou ouvindo, lendo, vivendo, e tentando achar meu próprio caminho pra educar as crianças - assim no plural porque tem a pequena L. + outros três do marido (W.)

Thais me convidou para fazer este blog com ela e eu fiquei muito contente. ele abre esse espaço de possibilidades para encontrar pares de pensamentos por aí, o que sempre é um reforço bom pra seguir adiante apesar de, ou pra trocar figurinhas, ficar em contato com outras formas de ver a maternidade.

se apesar da força que as trocas oferecem, a insegurança ainda tomar conta, penso no que minha mãe disse. perguntei a ela por sms: ter filhos vale a pena? e chegou o envelopinho no celular: se tiver amor, sim.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Cheiro de bebê novo no ar



Dia 03 de fevereiro ganhei a minha segunda filha, de parto natural.

Foi uma longa jornada de exames, consultas, cuidados com a saúde, diabetes gestacional no meio do caminho, mas sinto que cada uma delas valeu a pena. A minha primeira filha tive parto cesárea, e senti uma grande frustração por não passar pelos estágios do trabalho de parto. Nesta segunda gestação, fiz o neonatal somente com médicos de parto humanizado. Foi como se estivesse grávida pela primeira vez, só que de novo.

Na verdade, quase não vi minha gravidez passar. Se sentia enjôos ou sonolência, não dava para eu simplesmente ir descansar ou dormir: tinha a minha primeira filha me puxando pelo braço para que eu fosse brincar com ela ou, no auge do barrigão, ter ela esticando os bracinhos para que eu a pegasse no colo. Ela tem 2 anos e 2 meses e detalhe: pesa 14kgs. Eu apoiava ela em cima da minha barriga e saía andando.

Apesar disso, fiz um esforço para organizar um chá de fraldas - que foi junto com o aniversário de dois anos da mais velha - e tive que contar com a ajuda maciça das minhas irmãs. E algumas semanas antes da data prevista do parto, lá vamos deixar lavadas todas as roupinhas - herdadas da irmã. Algumas estavam amareladas apesar de eu ter deixado guardadas limpas, mas ainda bem que eram brancas e foi só deixar na candida para que ficassem boas.

Na maternidade, simplesmente esqueci de fazer lembrancinhas para distribuir para as visitas. Só fui lembrar quando uma amiga minha veio me visitar em casa e trouxe a lembrancinha do nascimento da neta dela para mim!

Enfim, ser mãe pela segunda vez tem os seus deslizes, mas em compensação a gente consegue não ter tanta nóia quanto do primeiro filho.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Mães e bebês de concreto



Quando imaginei ter fihos, sempre sonhei em tê-los morando numa casa, com plantas, cachorro, quintal e muito espaço para eles correrem e se sujarem. Mas a realidade às vezes está um pouco distante do que a gente considera ideal, e são nesses momentos que temos que usar da nossa criatividade para tornar o nosso dia mais colorido, mais suave, mais poético.

Trocando figurinhas com uma amiga muito querida surgiu a idéia de escrevermos este blog a quatro mãos: eu, Thais, mãe de duas meninas, e Mai, mãe também de uma linda menina. Nós duas moramos em grandes cidades - São Paulo e Curitiba, respectivamente - e vamos relatar aqui um pouco da nossa experiência como mães.

Espero que vocês gostem do blog.